Os vivos, o morto e o peixe frito de Ondjaki

 

Este livro é o livro mais fácil e rápido de ler que li nos últimos tempos e isto deve-se à simplicidade das suas peripécias. No entanto, um dos elementos mais satisfatórios do livro é o modo como muitos detalhes, à primeira vista, sem importância, se revelam determinantes para a maneira como a história avança. Por exemplo, se dois dos personagens principais não tivessem encontrado uma viúva chorosa, não teriam perdido tanto tempo até ao evento principal (o jogo de futebol) começar, e JJ Mouraria não teria tido tantas desculpas para escapar à ira da família da sua namorada. 
Das coisas mais cómicas no livro, a minha predileta, é o modo de falar de JJ Mouraria, que acabou por me fazer afeiçoar à personagem, uma vez que este agia de maneira vaga, evitando perguntas e irritando quem ia conhecendo. Ele e o amigo, Manguimbo, são o duo cómico perfeito. A minha cena favorita é, precisamente, o encontro deles, na casa de Mário Rombo e Quim, por causa do linguajar e por causa das personalidades de cada um. 
A verdade é que nunca ri tanto com um livro, nem pensei que tal fosse possível, por isso, recomendo-o a toda a gente que queira algo divertido e leve!

Catarina Tavares

Antes que o café arrefeça

Ora, é possível dizer que o cliché de voltar ao passado para alterar o presente e o futuro é uma ideia já conhecida por todos e, no entanto, a sinopse deste livro quebra já essa expetativa, indicando que aqui as viagens ao passado não alteram nada.

A verdade é que o mais chamativo na sinopse, para mim, foram as histórias que o livro promete contar sobre cada personagem. Muito sobre o amor, este é um livro calmo mas interessante, que conta quatro histórias principais: Amor jovem, inesperado; Amor que dura na saúde e na doença; Amor que se esqueceu de si e Amor à primeira vista. 

Se querem perceber melhor estes tipos de amor e experienciar reviravoltas impensáveis sobre o que vale ou não a pena, já sabem: é ler o livro!

O mais importante das histórias apresentadas, para mim, foi o facto de nos fazer pensar sobre os comportamentos humanos de forma mais profunda. Na vida real, não é preciso voltar ao passado para perceber certas coisas. Creio que é essa a mensagem que o autor pretende passar, que pensemos com mais afinco no que realmente importa e que não sejamos tão rápidos a fazer juízos de valor.

Catarina Tavares

Isto acaba aqui

 

Este é um livro com conteúdos mais explícitos do que pensava, não só pela violência relatada mas também por causa de temáticas mais controversas. Por isso, é um livro que só recomendaria a estudantes do ensino secundário ou a leitores mais velhos. 

O livro ilustra situações de trauma, violência doméstica e os seus impactos em quem a sofre ou a testemunha. No entanto, penso que esses tópicos se perdem um bocado no romance que a personagem principal, Lilly Bloom, vive. Porém, é possível que isto seja intencional para melhor demonstrar a confusão que se passa dentro da mente da personagem. Esta associa memórias do passado ao presente, ficando na dúvida se as deve distanciar ou utilizar como mecanismos para ver possíveis avisos, as ditas red flags.

Sobre o final, deixo-vos com a questão com que me deparo de momento: Irá Lilly conseguir distinguir uma relação saudável de uma relação tóxica; ou será que achará normal, às vezes, os parceiros amorosos “cometerem erros”, ainda que muito dolorosos?

Catarina Tavares